A FREIRA E O BÊBADO

A FREIRA E O BÊBADO
Será possível conciliar a genuína devoção religiosa com a febre da internet? Decerto que sim. Exemplo disso é uma freirinha que mora no cenáculo aqui ao lado de casa. Cumpridora assídua de seus deveres monásticos, já cansei de vê-la de madrugada pela janela com o micro ligado até altas horas. Com o binóculo, respeitosamente, constatei que a religiosa pilota um belo navegador Chrome 37 e deleita-se surfando na web. Por vezes passa madrugadas inteiras lendo e respondendo e-mail, fuçando Face, Twitter e G+, e nos fins-de-semana costuma programar em Java. Dizem que também é fera em Assembler, mas nunca constatei essa particularidade daqui do meu ponto de visada.
É idosa, mas retém traços duma juventude imaculada e espiritual. Às vezes é possível vê-la caminhando aqui pela rua, num passo solene. Em algumas ocasiões passeia com a Bíblia debaixo do braço, outras vezes com um livro grosso de XML. Seu longo traje preto e sua alta estatura lhe conferem uma imagem respeitável e sóbria. Apenas seu rosto aparece emoldurado pela fina tarja branca, no meio daquele onipresente hábito negro. Quando a madre passa pela calçada, todos a reconhecem, mas ninguém lhe dirige palavra. Alguns até se benzem.
Pois bem, semana passada a religiosa saiu à rua, num de seus raros passeios, como se deslizasse silente pela calçada, quase flutuando sobre a pedra portuguesa. Sua imponência contrastava com a humildade de seu olhar, sempre voltado para baixo, e suas feições alvas contrastavam com o tecido preto que a cobria.
Pois eis que um bêbado fedorento, que nunca tinha sido visto aqui pela rua, estava encostado num poste murmurando coisas ininteligíveis e segurando uma garrafa de pinga quase vazia. Com a outra mão fazia gestos como se discursasse para uma audiência invisível. Estava obviamente desvairado e doidão. Começou a gritar baboseiras, proferiu impropérios, soltou muito perdigoto e começou a ficar mais exaltado, deixando cair a garrafa que se quebrou na sarjeta, o que o irritou ainda mais.
Momentos depois, ó triste infortúnio, a freira passou entre o muro e o poste. O pinguço foi tomado de susto e, sem explicação nem motivo aparente, lançou-se sobre a doce monja como se estivesse atacando um tigre selvagem. Caiu de porrada em cima da irmã com uma ferocidade de dar dó. Ao primeiro murro, a madre jogou longe o manual de FTP que segurava e ao terceiro bofetão caiu estrepitosamente ao chão. O enlouquecido bêbado se jogou em cima da freira com redobrada fúria, massacrando-a sem piedade com tapas, socos e cotoveladas na cara.
No meio da surra dizia coisas desencontradas como: "Finalmente!" e "Eu sempre sonhei em te quebrar a cara, agora toma!" Depois sentou-se em cima da freira que, deitada de barriga para cima, ainda esboçava reação. Aplicou-lhe mais dois ou três safanões, até que a religiosa desfaleceu, bem machucada e toda suja.
O cara, totalmente alcoolizado, viu a pobre mulher inerte e, sempre zonzo, deu-se por satisfeito. Levantou-se lentamente, batendo com as mãos na própria roupa como se estivesse a tirar poeira de seus farrapos. Deu dois passos para trás com ares de vencedor, olhou com desprezo para a figura negra escarrapachada na calçada e, com uma grave voz rouca e mal articulada, grunhiu:
"Eu esperava muito mais de você... Batman."
_[Adaptado de http://catalisando.com/infoetc/352.htm]_
Old but Gold... kkkkk
ResponderExcluirNão sei se paro solto risos ou penso na freira rsrsrs
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