QUANDO O SANTO NÃO CRUZA...
QUANDO O SANTO NÃO CRUZA...
Você tá andando pela rua com a família e de repente lembra duma loja de esquina linda e maravilhosa especializada em açaí. Todos topam ir até lá e a alegria é geral. Você já sente o gosto daquela delícia escorregando pra dentro da sua goela. Quando chega no estabelecimento, é atendido por uma jovem megassimpática que lhe explica com um sorriso fulgurante:
— Seja bem-vindo. Aqui o senhor mesmo se serve. É naquelas máquinas ali na esquerda. Basta pegar o copo, colocá-lo em baixo da torneira e puxar a alavanca. Vai sair um delicioso açaí geladinho misturado com xarope de guaraná.
Mal consigo me controlar, antecipando o prazer quase sexual de degustar aquela maravilha.
Pego o copo, posiciono-o com precisão quase cirúrgica sob a boca da torneira e, quando aciono a alavanca mágica, eis que o aparato explode respingando açaí para norte, sul, leste, oeste, zênite e nadir, transformando minha imaculada camiseta vermelha numa pequena constelação de estrelas roxas.
A equipe de atendimento imediatamente começa a suar frio e, num salto quase olímpico, um rapaz do time me passa uma toalhinha azul para limpar a camisa.
— Aqui está, senhor.
Eu pego a toalhinha, sinto o pano e olho incrédulo para a cara apatetada do sujeito, que me responde:
— Ah, desculpe. A toalha está seca. É só botar ali no dispensador e molhar com um pouco de álcool gel. Tira a mancha que é uma beleza.
Já com a cabeça fumegando, vou até lá e dou uns 35 apertos cada vez mais raivosos na máquina maldita. E não sai nenhuma gota sequer de álcool gel.
Controlando-me para não soltar um impropério, vou até o balcão onde a equipe já tinha esquecido do meu caso desprezível e indago com uma voz alguns decibéis acima do volume usual:
— Será que tem alguma coisa que funcione nessa loja?
Vem uma terceira funcionária, jovem como os anteriores, e tenta provar que sou um total incompetente quando se trata de fazer verter álcool gel de um dispensador. Pega gentilmente de minhas mãos a toalhinha ainda seca e dá uns 50 apertos no implemento. Novamente, nenhuma gota de álcool gel.
Minha alma, já tomada da tristeza, antevendo que não tomaria açaí algum ali, se vê em frangalhos. A família, que estava lá fora acompanhando em silêncio a saga, já sabia que abandonaríamos o local em secura total.
E assim foi. Uma lástima total.
Mas foi uma vitória pessoal pra mim. Consegui passar por tudo sem xingar ninguém nem me exaltar a ponto de sair berrando nem esmurrando a máquina de açaí ou o dispensador, como provavelmente aconteceria no passado. Acho que é uma das vantagens da idade.
Uma pena, pois ontem mesmo passei pela loja e achei-a lindíssima e convidativa. Mas nessa eu não entro nunca mais. E passo a você o endereço para que mantenha distância... a menos que leve de casa um avental plástico para o caso de nova explosão.
Trevo Açaí - Niterói. Rua Dr. Leandro Mota, 148 - 103 - Icaraí, Niterói - RJ, 24220-370. Fica na esquina de Nóbrega com Mariz e Barros.

Você tá andando pela rua com a família e de repente lembra duma loja de esquina linda e maravilhosa especializada em açaí. Todos topam ir até lá e a alegria é geral. Você já sente o gosto daquela delícia escorregando pra dentro da sua goela. Quando chega no estabelecimento, é atendido por uma jovem megassimpática que lhe explica com um sorriso fulgurante:
— Seja bem-vindo. Aqui o senhor mesmo se serve. É naquelas máquinas ali na esquerda. Basta pegar o copo, colocá-lo em baixo da torneira e puxar a alavanca. Vai sair um delicioso açaí geladinho misturado com xarope de guaraná.
Mal consigo me controlar, antecipando o prazer quase sexual de degustar aquela maravilha.
Pego o copo, posiciono-o com precisão quase cirúrgica sob a boca da torneira e, quando aciono a alavanca mágica, eis que o aparato explode respingando açaí para norte, sul, leste, oeste, zênite e nadir, transformando minha imaculada camiseta vermelha numa pequena constelação de estrelas roxas.
A equipe de atendimento imediatamente começa a suar frio e, num salto quase olímpico, um rapaz do time me passa uma toalhinha azul para limpar a camisa.
— Aqui está, senhor.
Eu pego a toalhinha, sinto o pano e olho incrédulo para a cara apatetada do sujeito, que me responde:
— Ah, desculpe. A toalha está seca. É só botar ali no dispensador e molhar com um pouco de álcool gel. Tira a mancha que é uma beleza.
Já com a cabeça fumegando, vou até lá e dou uns 35 apertos cada vez mais raivosos na máquina maldita. E não sai nenhuma gota sequer de álcool gel.
Controlando-me para não soltar um impropério, vou até o balcão onde a equipe já tinha esquecido do meu caso desprezível e indago com uma voz alguns decibéis acima do volume usual:
— Será que tem alguma coisa que funcione nessa loja?
Vem uma terceira funcionária, jovem como os anteriores, e tenta provar que sou um total incompetente quando se trata de fazer verter álcool gel de um dispensador. Pega gentilmente de minhas mãos a toalhinha ainda seca e dá uns 50 apertos no implemento. Novamente, nenhuma gota de álcool gel.
Minha alma, já tomada da tristeza, antevendo que não tomaria açaí algum ali, se vê em frangalhos. A família, que estava lá fora acompanhando em silêncio a saga, já sabia que abandonaríamos o local em secura total.
E assim foi. Uma lástima total.
Mas foi uma vitória pessoal pra mim. Consegui passar por tudo sem xingar ninguém nem me exaltar a ponto de sair berrando nem esmurrando a máquina de açaí ou o dispensador, como provavelmente aconteceria no passado. Acho que é uma das vantagens da idade.
Uma pena, pois ontem mesmo passei pela loja e achei-a lindíssima e convidativa. Mas nessa eu não entro nunca mais. E passo a você o endereço para que mantenha distância... a menos que leve de casa um avental plástico para o caso de nova explosão.
Trevo Açaí - Niterói. Rua Dr. Leandro Mota, 148 - 103 - Icaraí, Niterói - RJ, 24220-370. Fica na esquina de Nóbrega com Mariz e Barros.
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